Foi há 26 anos atrás que Roque Santeiro causou um verdadeiro furdunço, no vocabulário típico da novela, em função de sua proibição dez anos antes. Ontem, milhares de pessoas, entre elas algumas que ainda não assistiram a novela, puderam acompanhar e a tentativa de entender os motivos da censura é praticamente nula.
Um dos tweets da noite era de uma mulher cuja mãe não a deixava assistir a novela e, no entanto, hoje Roque Santeiro é fichinha perto de Malhação.
Perceber que a novela hoje pode não ser tão escandolosa como supunha a nossa Censura era tão parva quanto medrosa. O medo da censura era a de que ao assistir uma novela feito Roque Santeiro, o povo começasse a pensar. Não falamos de quem estava nos grandes centros e frequentava o ensino superior, o mínimo da população no Brasil. O fato é que a Rede Globo já possuía nesta época uma abrangência grande demais pelo país a ponto de qualquer descuido ser fatal para a ditadura militar e intelectual.
Mesmo assim, Roque não perdeu seu caráter contestador. Logo nas primeiras cenas podemos ver um muro com a pixação "Diretas Já". Foi neste ano que grandes acontecimentos começaram a modificar a vida política brasileira e essas alterações se refletem ainda hoje. Foi em 1985 que Tancredo Neves deveria assumir a presidência como o último governante eleito pelo Colégio Eleitoral, uma espécie de conselho. A vitória de Tancredo gerou muita comemoração por parte da população que acreditava em seu desejo democrático. Mas o mineiro faleceu em 21 de abril daquele ano e em seu lugar assumiu o vice-presidente José Sarney.
A exploração dos poderosos e também dos biscates sobre o povo que acredita no santo milagreiro é outra questão bastante explanada pela novela, aliás, este é justamente o mote que vai colocar a vida do vivente Roque em perigo. Se o santo não morreu, então não há milagres e desse modo a cidade perde seu único potencial turístico.
A estreia de ontem cravou a tag #RoqueSanteiro nos Trending Topics Brasil do Twitter e se mantém até hoje, terça-feira após a estreia. Possivelmente o primeiro capítulo não gerou o mesmo fuzuê (para usar outro termo típico) que o de Vale Tudo, onde logo na estreia Raquel Acioli é roubada pela filha Maria de Fátima. Entretanto, vale a pena rever esse grande sucesso da teledramaturgia em sua versão sem cortes. É no mínimo garantia de diversão.
Por Jean Cândido Brasileiro
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