segunda-feira, 13 de junho de 2011

CENSURA DIZ QUE PROIBIU A NOVELA EM DEFESA DA MORAL, ORDEM PÚBLICA E DA IGREJA


Brasília - A presença, dentre outros pontos negativos, de matéria contendo "ofensa à moral, à ordem e aos bons costumes bem como achincalhe à Igreja", foi o motivo principal da proibição, pela Divisão de Censura, da novela Roque Santeiro, cuja estréia a Rede Globo de Televisão havia marcado para o último dia 26.

Os motivos foram apontados ontem em nota divulgada pela Direção-Geral do Departamento de Polícia Federal, com a finalidade de esclarecer a opinião pública sobre o assunto, amplamente abordado por aquela emissora que, a 16 de maio último, foi advertida sobre a impossibilidade de ser examinada a peça através de uma sinopse.

A NOTA

"Com referência à nota ontem divulgada pela Rede Globo de Televisão, a propósito da novela Roque Santeiro, de autoria de Dias Gomes, a Divisão de Censura de Diversões Públicas do Departamento de Polícia Federal esclarece o seguinte, em resumo:

1 - Em data de 16 de maio, a Divisão de Censura comunicou à Rede Globo, que, como a sinopse da novela não oferecia condições para um exame em profundidade, era necessária a apresentação dos textos em grupos de 24 a 38 capítulos, antes de realizada a gravação dos mesmos, para que, com o exame antecipado, pudesse a Censura manifestar-se seguramente, no que dissesse respeito à classificação etária, a ser depois confirmada com a verificação das gravações.

2-Em data de 4 de julho, a Censura comunicou à Rede Globo que os textos dos capítulos de números um a 20 haviam sido aprovados para apresentação após as 20h, condicionados, no entanto, à verificação das gravações, para obtenção do certificado liberatório; permanecia a exigência da remessa antecipada dos capítulos subseqüentes, posto que, ocorrendo maiores implicações de ordem moral ou social, poderiam ser vetados os outros capítulos ou mudado o horário da novela.

3 - Em data de 20 de agosto, a Censura comunicou à Rede Globo que o exame das gravações permitiu uma melhor avaliação da novela, levando-a a reconhecer que havia aspectos intoleráveis para a faixa das 20h, donde decidir-se classificá-la para maiores de 16 anos, liberando-a para após as 22h, sujeita ainda a novela a vários cortes com o fim de suprimir cenas e situações inconvenientes.

Acrescente-se que o parecer dos censores que examinaram a novela assinala, dentre outros pontos negativos, que a mesma contém: "ofensa à moral, à ordem pública e aos bons costumes, bem como achincalhe à Igreja."

Acentue-se, finalmente, que, nos contatos pessoais havidos entre a Censura e elementos credenciados da direção da Rede Globo de Televisão, em Brasília, desde o início do exame do problema, inúmeras advertências e apelos foram formulados, com o propósito de evitar a exibição da novela Roque Santeiro, sobretudo no horário das 20h".



CANTÍDIO EXPLICA

O Delegado Cantídio Sampaio, como líder da Arena. esclareceu ontem a posição da Censura relativamente à novela Roque Santeiro. Afirmou que a proibição se restringiu a horário, estabelecendo-se que poderia ir ao ar às 22h, em vista das inconveniências do seu enredo.
Adiantou que os responsáveis pela transmissão da novela não podem alegar terem sido surpreendidos pois foram avisados das restrições da Censura, por escrito, em maio, em julho e ultimamente a 20 de agosto, além de terem recebido apelos de ordem pessoal relativamente ao conflito entre a propaganda que se fazia e as objeções oficiais.

CARTA

Um grupo de 23 artistas de teatro, cinema e TV tentou ontem entregar uma carta ao Presidente Ernesto Geisel, na qual exprime a apreensão da classe diante dos obstáculos que vêm enfrentando para exercer a profissão. Eles não passaram nas ante-salas, onde foram recebidos pelo Sr Alberto Costa, subchefe especial do Gabinete Civil.

Após alguns minutos de ligeira confusão, o ator Paulo Gracindo leu em voz alta, a carta dirigida ao Presidente que, entre outras coisas, afirma que "o país vive uma triste contradição: enquanto a sociedade se moderniza, a cultura, por efeito de um código de censura anacrônico e implacável, se avilta, se desfigura, e se desnacionaliza".


Jornal do Brasil
29/8/1975

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