sexta-feira, 10 de junho de 2011

ROQUE SANTEIRO, DEZ ANOS DEPOIS

Os comentários, durante a reunião de elenco da próxima novela das oito, "Roque Santeiro", eram entusiasmados. Proliferam os "personagens estranhos" — segundo o autor, Dias Gomes — e isso animava bastante o lado interpretativo dos atores, escalados para a saga, que volta à pauta dez anos depois de sua "primeira tentativa". Os atores chegaram pontualmente, mas nem todos compareceram, porque o elenco não está inteiramente escalado e também porque muitos ainda se desligavam de compromissos para, a partir de hoje, assumirem seus papéis, nas gravações iniciais em Vassouras. Tudo foi esclarecido pelo diretor Paulo Ubiratan, que abriu a reunião fazendo as apresentações.

Lima Duarte em 1975 e 1985
como Sinhozinho Malta
Apenas três atores se mantêm fiéis aos personagens da antiga montagem: Lima Duarte (Sinhozinho Malta), Luís Armando Queiroz (Tito) e João Carlos Barroso (Toninho Jilo). Paulo Ubiratan disse estar à espera de uma resposta de Regina Duarte, cogitada para ser a viúva Porcina, e explicou que Cláudio Cavalcanti poderá ser o Padre Albano, personagem que entra nessa nova versão. Assegurou as participações de José Wilker, Fábio Jr. e Eloísa Mafalda — que não estavam presentes —, saudou a volta dos bem-amados Lima Duarte e Paulo Gracindo, comentou as estréias em novela de Cláudia Raia, Patrícia Pillar, Maurício Mattar e outros, esclareceu que Sebastião Vasconcellos deve ganhar uma barba, enquanto Armando Bógus já exibia um bigode postiço e Arnaud Rodrigues ensaiava seu papel de cego. Apresentações feitas, Ubiratan pediu a cooperação de todos:

Estamos com pouco tempo para muito trabalho. A estréia será em 24 de junho e temos apenas 17 dias para aprontar dez capítulos. Importante também é levar em conta que a idéia original era situar Asa Branca no Nordeste e agora optamos por um microcosmo brasileiro, com 30 mil habitantes, que há 17 anos era uma vila, mas que cresceu em função do mito de Roque Santeiro. Uma cidade que tem mineiros, gaúchos, paulistas e cariocas. Que tem aproveitadores, capitalistas, coronéis e políticos.

O autor Dias Gomes explicou que deve-se buscar, em "Roque Santeiro", um tipo de representação autenticamente brasileira, esquecendo modelos impostos por filmes americanos:

Vamos ver se isso estimula vocês. Vamos esquecer as formas, as cenas , os desenvolvimentos dramáticos, em prol de um comportamento mais brasileiro. Que essa história seja contada de uma maneira bem nossa, que tenha muito de cordel, de povo.

Dias disse também que Asa Branca é uma cidade mágica, com pessoas estranhas, não importando que haja um excesso de tipos:

O que importa é o clima. Por isso teremos uma figuração permanente na cidade, como um casal que está sempre se beijando, uns. caras que jogam damas na praça, uma velhinha que faz suas rendas, uma baiana que vende suas coisitas. Tudo para criar essa mágica vital...


O Globo
Abril de 1985

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