quinta-feira, 15 de setembro de 2011

ALÉM DE ASA BRANCA - TEATRO NA TV

TEATRO NA TV 

Não se faz mais novelas como antigamente. Esse é o bordão de todo mundo que dedica um tempo precioso de sua vida para se sentar em frente à TV na hora da novela. Escuto essa ladainha desde que era criança e a verdade é que novelas que faziam sucesso e que fracassavam eram tão comuns naquela época como ainda é hoje.

Mas quando assistimos sequências como as dos capítulos que sucederam o retorno de Roque à cidade de Asa Branca, parece que realmente era muito difícil uma novela fracassar. Mesmo que a audiência do horário do Canal Viva tenha caído com a exibição de Roque Santeiro, não podemos deixar de destacar que a novela é primorosa. Talvez sua inspiração em uma obra teatral tenha influenciado em todos os aspectos a produção da obra áudio visual.

O figurino tem características  tão peculiares que não passa desapercebido, exceto para as meninas da Boate Sexus e para os atores da fita, uma clara demonstração da distância entre o mundo real (a capital) e o mundo de Asa Branca. Obviamente que vendo hoje aquelas roupas tão coloridas, parece que vemos um carnaval repleto de alegorias, mas devemos nos lembrar que Roque Santeiro foi ao ar no auge dos anos 80. 


Já os habitantes de Asa Branca são específicos. A cidade ainda tem um padre que insiste em usar batina, mesmo quase 20 anos depois do Concílio Vaticano II que derrubou a obrigatoriedade do uso do paramento aos sacerdotes católicos, o prefeito anda constantemente com sua beca formal, Zé das Medalhas representando o comércio está sempre com uma pasta nas mãos e não podemos deixar de lado o figurino de Sinhozinho Malta e Porcina. Aliás, esta última cada dia mais inspirada.


Além do texto, do figurino e da cenografia, o sucesso não seria possível sem um quesito básico: a direção dos atores. Com marcações que lembram uma grande peça de teatro, Roque Santeiro diverte e surpreende positivamente a cada nova minuto. A cena em que Porcina e Malta balançam a rede de Roque é imperdível, a sequência do prefeito conversando com o futuro empresário Tito e tentando fazê-lo desistir da fábrica de velas é outro momento impagável e até a briga da recatada Mocinha com as meninas da boate Sexus é puro divertimento.

Bons tempos aqueles em que se podia falar sem medo a palavra “piranha” nas novelas, retomada finalmente em O Astro. Bons tempos em que todos os atores são impecáveis e há química e cumplicidade em cena.

Este texto é um novo convite. Se você perdeu Roque Santeiro até aqui, esta oportunidade é única. Assistir esta novela em sua íntegra é ter contato com uma das grandes obras-primas da teledramaturgia brasileira.

Por 
Jean Cãndido Brasileiro

Um comentário:

  1. Muito bom o blog e excelente texto. Estou adorando acompanhar esta novela maravilhosa, de uma época em que as novelas ainda tinham relevância artística.

    Abs

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