sábado, 29 de outubro de 2011

CLÁUDIO CAVALCANTI

Ele não tinha tempo para voltar a fazer novela. Já acumulava as atividades de ator, diretor e produtor de uma peça que estréia este mês, além de dirigir alguns episódios do "Caso verdade". Mas Cláudio Cavalcanti não resistiu ao papel de Padre Albano, numa novela que considera "tão especial" como "Roque Santeiro". Resultado: está gostando tanto a ponto de achar que seu personagem devia estar mais presente, pela "importância das idéias progressistas e liberais que transmite".

Fazer o que gosta, esta é a fórmula de Cláudio Cavalcanti. Assim é que "inventa" tempo para misturar tantas coisas no mesmo dia. Fica horas gravando como padre Albano, em "Roque Santeiro", dirige e acompanha os trabalhos de edição e sonorização de um "Caso verdade", e passa as noites ensaiando como ator e diretor, a peça "Estou amando loucamente", na qual ele, Maria Lúcia Frota e Gracindo Júnior andam de bicicleta o tempo todo pelo palco como se estivessem passeando no parque.

- Como faço o que gosto, todo trabalho me descansa e me faz feliz.

Com uma experiência de quase 30 anos, Cláudio vem atuando, há tempos, em outras frentes, e não apenas como ator. Desde que começou a carreira - diz - sente uma inquietação muito grande, que se traduz numa "desenfreada necessidade de criar". E explica:

- Até hoje adoro representar, que é um processo mágico - a gente fica meio possesso, solta as emoções. Mas, quando comecei a dirigir, senti um fascínio muito grande por esta atividade. Hoje, afirmo que, para mim, seria impossível não fazer mais as duas coisas juntas, atuar e dirigir.

Em teatro, Cláudio também produz, cuida da iluminação e da trilha sonora. Ele acha esse trabalho de produção "penoso e cansativo", mas diz que este é o preço que se paga para realizar o espetáculo que se quer:

- Sei que tenho de batalhar por uma produção, para depois ter o prazer de ver um sonho realizado. Até hoje, seja como produtor ou diretor, não pude ainda experimentar a sensação de fazer tudo, dar o tiro de largada e esperar o resultado. Dou o tiro e saio correndo. Mas é bom, gratificante do mesmo jeito. E, depois que a gente entra em cena, todo o trabalho penoso e cansativo é esquecido, o que fica é uma satisfação muito grande.

Todos os momentos de seu trabalho são acompanhados e compartilhados por sua mulher Maria Lúcia, atriz e produtora do espetáculo, e que também participa do "Caso verdade" - "Todo o dinheiro do mundo" - em fase final de gravação. Estão casados há seis anos e, nesse tempo, ela apaixonou-se pelo teatro e abandonou sua atividade de psicóloga, tornando-se atriz:

- Em nossa vida, nada foi programado. As coisas foram acontecendo e nós fomos nos adaptando a elas. Não importa se vamos virar a noite ensaiando, e temos de gravar às seis ou sete da manhã seguinte. Importa, sim, viver todos os momentos numa boa. No dia seguinte, dormimos até mais tarde. Precisamos nos libertar de certas convenções, como a de ter de dormir seis ou oito horas, comer duas ou três vezes por dia. O que vale é sentir, desfrutar a vida.

O apartamento dos dois é amplo, com muitos livros, discos e fitas de videocassete, as paixões de Cláudio - que também dispensa um tratamento especial aos cinco gatos da casa.
Cláudio e Maria Lúcia se conheceram numa reunião na APA (Associação de Proteção aos Animais) - são vegetarianos, porque se opõem à violência do abate dos animais. Com eles mora Lúcia, 13 anos, filha de Maria Lúcia, já iniciada no meio teatral, numa peça infantil. Não há uma rotina - para eles, cada dia é diferente. Diz Maria Lúcia:

- A gente namora muito, mas, na hora de trabalhar, agimos profissionalmente.

Já Cláudio diz que é exigente como diretor, até porque é extremamente rígido consigo mesmo, em todos os sentidos, profissional e humanamente. Dirigindo, ele se acha "gentilmente exigente". Quanto ao trabalho em "Roque Santeiro", destaca:

- A novela é marcante, diferente do que vinha acontecendo por ai. Meu personagem, o padre Albano, é sensacional. Eu e Paulo Gracindo estamos conseguindo fazer dois padres que pensam diferente e têm personalidades diferentes, sem um ser o vilão e o outro Robin Hood.

Olívia Gonçalves
Jornal O Globo
4/8/1985

Assista os Capítulos 73 (quarta-feira) e 74 (quinta-feira)







Cap. 74





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