segunda-feira, 31 de outubro de 2011

NOS DOIS PADRES A EVOLUÇÃO DA IGREJA

Não há obra de Dias Gomes sem padre. Desde "O pagador de promessas" (passada na entrada de uma igreja), os representantes da Igreja Católica são personagens de Dias. Numa ou noutra rara obra não aparecem. E os padres de Dias Gomes refletem de há muito a própria evolução ocorrida na Igreja, de João XXIII a nossos dias.

De defensores de estruturas rígidas, maniqueístas e fechadas para um arejamento tanto político como existencial. Já o padre de "O bem amado", tão bem interpretado por Rogério Fróes na primeira fase, (quando era telenovela), ainda acentuava as posições da antiga Igreja. Na fase do seriado posterior, ele já andava de bicicleta, conversava com mais soltura e em várias ocasiões assumia posições políticas críticas em relação ao status quo de Sucupira, projeção do quadro nacional exatamente quando, nesta, a Igreja Católica engajara-se na luta pela democracia.

"Roque Santeiro" vem de certa forma resolver os impasses para um autor que pretende retratar o real através da sátira. Um padre voltado para a velha ordem, Hipólito, e outro, Albano, renovador, sem batina e até, como na semana que passou; dançando, todo pimpão, num baile com presença das prostitutas da região. Afinal, a missão pastoral deve exercer-se onde quer estejam homem e o pecado e não apenas nos locais protegidos contra a ordem temporal e mundana.

Não podia haver melhor escolha que Paulo Gracindo e Cláudio Cavalcanti para as interpretações. N'outra oportunidade detalharei como cada um desses atores vem emprestando verdade e sentimento a suas criações.


Artur da Távola
Jornal O Globo
1985


Assista o Capítulo 75 exibido nesta sexta-feira






2 comentários:

  1. Parabéns pelo seu trabalho. É, simplesmente, o melhor blog da internet sobre a novela Roque Santeiro. Nem a Globo tem algo igual...
    Parabéns, mesmo !
    João

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  2. Parabéns pelo blog e pelas reportagens postadas, em especial as reportagens "NOS DOIS PADRES A EVOLUÇÃO DA IGREJA" e "CLÁUDIO CAVALCANTI". Claudio Cavalcanti e Paulo Gracindo deram show e não vejo outros atores interpretando Padre Albano e Padre Hipólito.
    Sou fã e adoro o ator Claudio Cavalcanti, acompanho a carreira dele desde sempre. Espero ver outras reportagens relacionadas a ele no blog. Muito obrigado pela oportunidade de ler essas maravilhosas reliquias.

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